sábado, 7 de fevereiro de 2015



Animais desconhecidos

        David Attenborough garante que não é difícil descobrir um animal desconhecido. Basta passar um dia numa floresta tropical, na América do Sul, por exemplo. Eles podem ser encontrados sob a casca das enormes árvores ali existentes, entre as folhas caidas no chão, dentro de troncos ocos, ou, à noite, apenas com uma lâmpada acesa. São mariposas, lagartas, aranhas, besouros narigudos, insetos luminosos, borboletas inofensivas disfarçadas de vespas ameaçadoras, vespas com jeito de formigas, gravetos que andam, folhas que abrem as asas e voam. Difícil será encontrar um especialista capaz de garantir que o seu animal é realmente novo, desconhecido.
        Dos conhecidos, ele afirma que existem mais de 40 espécies de papagaios, mais de 70 de macacos, 300 de beija-flores, dezenas de milhares de borboletas. E previne: “Se você não se cuidar, poderá ser picado por cem tipos diferentes de mosquitos.” Um jovem naturalista inglês chamado Charles Darwin esteve no Rio de Janeiro em 1832. Adorava caçar esses bichinhos – passava semanas inteiras andando pelo interior da Inglaterra procurando por eles. Em plena cidade do Rio de Janeiro, num pequeno terreno ao lado da casa onde estava hospedado, em Botafogo, ficou assombrado ao encontrar, num único dia, 68 espécies diferentes de besouros. E comparou: depois de suas caçadas semanais na Inglaterra, precisava de um dia para catalogar suas descobertas; no Rio de Janeiro, uma hora de caçada exigia quatro dias de catalogação.
        Com certeza já não há mais tantos besouros em Botafogo, território que já não pode ser caracterizado como uma floresta tropical. Mas nelas, a vida animal continua riquíssima e diversificada como sempre foi. David Attenborough certificou-se disso em várias visitas que fez aos trópicos, na África sobretudo, para a produção de uma série de programas de televisão, exibidos na Inglaterra. Dele resultou este livro, leitura das mais fáceis e agradáveis, ricamente ilustrado, de tal forma que é impossível não ficar fascinado pela riqueza de formas, côres, e sobretudo de soluções inimagináveis que a evolução descrita por Darwin encontrou para solucionar agudos problemas de sobrevivência.
        Ele oferece explicações detalhadas de como os cientistas acreditam ter surgido a vida na face da Terra, de como ela se desenvolveu lentamente até chegar aos animais mais sofisticados e ao mais sofisticado de todos eles, o homem. A leitura é fácil e agradável, capaz de causar espantos variados: você consegue acreditar que as moscas são capazes de movimentar suas asas quase transparentes à velocidade de 1.000 batidas por segundo? Ou que as plantas, imóveis com suas raizes, aproveitam os insetos desprevenidos para espalhar suas células reprodutivas sobre espécimes capazes de aproveitá-las de uma forma muito mais eficiente do que o vento? Foi assim, por sinal, que surgiram as flores.
        O último capítulo é inteirinho sobre os homens, extraordinárias criaturas que se espalharam por toda a Terra, capazes de sobreviver em climas gelados ou tórridos, húmidos ou secos, claros ou escuros. Aqui ele nos oferece um exemplo flagrante das espertezas de que se vale a evolução para garantir a sobrevivência dos mais aptos: o ancestral mais primitivo, que marcou nossa separação dos símios, adotou a posição ereta para caminhar sobre duas pernas. Sofreu, com isso, uma grave perda de velocidade no deslocamento: “Um atleta altamente treinado, que pode ser considerado o melhor corredor bípede entre os primatas humanos, mal consegue manter 25 quilômetros horários para qualquer distância, enquanto que símios, galopando sobre quatro patas, atingem facilmente o dobro dessa velocidade”.
        O que o homem ganhou, então, com essa mudança? Suas patas dianteiras viraram mãos, que lhe permitiam segurar qualquer objeto com firmeza e, na hora da briga, arremessar pedras a longa distância ou brandir galhos pontudos com força e segurança. E a partir daí foram aparecendo mais e mais utilidades para esse órgão sem dúvida original.
       

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