Animais desconhecidos
David
Attenborough garante que não é difícil descobrir um animal desconhecido. Basta
passar um dia numa floresta tropical, na América do Sul, por exemplo. Eles
podem ser encontrados sob a casca das enormes árvores ali existentes, entre as
folhas caidas no chão, dentro de troncos ocos, ou, à noite, apenas com uma
lâmpada acesa. São mariposas, lagartas, aranhas, besouros narigudos, insetos
luminosos, borboletas inofensivas disfarçadas de vespas ameaçadoras, vespas com
jeito de formigas, gravetos que andam, folhas que abrem as asas e voam. Difícil
será encontrar um especialista capaz de garantir que o seu animal é realmente
novo, desconhecido.
Dos conhecidos,
ele afirma que existem mais de 40 espécies de papagaios, mais de 70 de macacos,
300 de beija-flores, dezenas de milhares de borboletas. E previne: “Se você não
se cuidar, poderá ser picado por cem tipos diferentes de mosquitos.” Um jovem
naturalista inglês chamado Charles Darwin esteve no Rio de Janeiro em 1832.
Adorava caçar esses bichinhos – passava semanas inteiras andando pelo interior
da Inglaterra procurando por eles. Em plena cidade do Rio de Janeiro, num pequeno
terreno ao lado da casa onde estava hospedado, em Botafogo, ficou assombrado ao
encontrar, num único dia, 68 espécies diferentes de besouros. E comparou:
depois de suas caçadas semanais na Inglaterra, precisava de um dia para
catalogar suas descobertas; no Rio de Janeiro, uma hora de caçada exigia quatro
dias de catalogação.
Com certeza já
não há mais tantos besouros em Botafogo, território que já não pode ser
caracterizado como uma floresta tropical. Mas nelas, a vida animal continua
riquíssima e diversificada como sempre foi. David Attenborough certificou-se
disso em várias visitas que fez aos trópicos, na África sobretudo, para a
produção de uma série de programas de televisão, exibidos na Inglaterra. Dele
resultou este livro, leitura das mais fáceis e agradáveis, ricamente ilustrado,
de tal forma que é impossível não ficar fascinado pela riqueza de formas,
côres, e sobretudo de soluções inimagináveis que a evolução descrita por Darwin
encontrou para solucionar agudos problemas de sobrevivência.
Ele oferece
explicações detalhadas de como os cientistas acreditam ter surgido a vida na
face da Terra, de como ela se desenvolveu lentamente até chegar aos animais
mais sofisticados e ao mais sofisticado de todos eles, o homem. A leitura é
fácil e agradável, capaz de causar espantos variados: você consegue acreditar
que as moscas são capazes de movimentar suas asas quase transparentes à
velocidade de 1.000 batidas por segundo? Ou que as plantas, imóveis com suas
raizes, aproveitam os insetos desprevenidos para espalhar suas células
reprodutivas sobre espécimes capazes de aproveitá-las de uma forma muito mais
eficiente do que o vento? Foi assim, por sinal, que surgiram as flores.
O último
capítulo é inteirinho sobre os homens, extraordinárias criaturas que se
espalharam por toda a Terra, capazes de sobreviver em climas gelados ou
tórridos, húmidos ou secos, claros ou escuros. Aqui ele nos oferece um exemplo
flagrante das espertezas de que se vale a evolução para garantir a
sobrevivência dos mais aptos: o ancestral mais primitivo, que marcou nossa
separação dos símios, adotou a posição ereta para caminhar sobre duas pernas.
Sofreu, com isso, uma grave perda de velocidade no deslocamento: “Um atleta
altamente treinado, que pode ser considerado o melhor corredor bípede entre os
primatas humanos, mal consegue manter 25 quilômetros horários para qualquer
distância, enquanto que símios, galopando sobre quatro patas, atingem
facilmente o dobro dessa velocidade”.
O que o homem
ganhou, então, com essa mudança? Suas patas dianteiras viraram mãos, que lhe
permitiam segurar qualquer objeto com firmeza e, na hora da briga, arremessar
pedras a longa distância ou brandir galhos pontudos com força e segurança. E a
partir daí foram aparecendo mais e mais utilidades para esse órgão sem dúvida
original.
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